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O sabor que não vem do gosto
Mente Manifesto - Edição #028

Você sente o sabor ou o gosto inivisível?
Citação da Semana
As marcas mais poderosas não vendem produtos — elas vendem memórias.
Você não lembra do gosto.
Você lembra do momento.
Da trilha sonora. Da sensação. Da atmosfera.
É assim que as marcas mais valiosas do mundo vencem:
Elas não disputam mercado. Elas disputam espaço na sua memória.
E o mais curioso?
Na maioria das vezes, o produto é só um veículo invisível para essa experiência emocional.
Ele poderia até mudar, e você nem perceberia.
O real valor está no que sua marca faz sentir, não no que ela entrega.
No mundo dos negócios, isso é mais do que branding.
É estratégia de sobrevivência num mercado onde tudo vira commodity, menos o que toca a alma do cliente.
Eu tinha 7 anos.
Era uma manhã de sábado, perto do Natal, e eu acordei mais cedo do que o normal.
Lembro do chão frio sob meus pés descalços enquanto atravessava a casa ainda escura, tentando não fazer barulho.
A televisão, pequena e de tubo, demorava alguns segundos para acender completamente. Primeiro um brilho pálido, depois a imagem surgia, granulada.
E ali estavam os desenhos, meu momento favorito da semana.
Mas naquele dia, não foi um desenho que me marcou.
Foi um comercial.
No meio da programação, entrou aquela música clássica de Natal que parecia saída de um sonho.
A tela mostrou neve e, pra uma criança brasileira, aquilo já era mágico por si só.
Então veio o Papai Noel, os caminhões iluminados, famílias rindo ao redor da mesa, crianças abraçando ursos de pelúcia.
Tudo envolto numa luz quente e dourada, como se o mundo fosse feito de carinho.
No fim, o logo vermelho brilhou na tela: Coca-Cola.
Eu não lembro de ter sentido sede.
Não lembro de ter pensado “quero beber isso”.
Mas eu lembro do calor no peito.
Lembro da vontade de estar naquela mesa.
Lembro da sensação de que aquele comercial era o próprio Natal.
Naquela mesma tarde, virei para o meu pai e pedi os ursos de pelúcia da propaganda. Eles estavam segurando pequenas garrafinhas de Coca-Cola nas mãos, e eu queria os dois, o urso e a Coca.
Meu pai, talvez tocado pelo clima de fim de ano ou pela insistência do filho, atendeu o pedido.
Mas não parou por aí.
No Natal daquele ano, foi a primeira vez que fiz questão de ter Coca-Cola na ceia.
Não porque eu gostasse do sabor.
Mas porque eu queria trazer pra minha casa aquilo que eu vi na TV.
Queria transformar o que eu sentia no comercial em realidade.
Na minha cabeça de 7 anos, se tivesse Coca na mesa, teria também alegria, união e aquela felicidade cinematográfica.
A garrafa virou símbolo.
O gosto virou código.
E o produto, invisível.
Eu só fui entender isso muitos anos depois.
Na época, achei que era só mais um Natal legal.
Mas hoje, olhando pra trás, vejo que ali nasceu uma percepção:
Marcas não vendem produtos. Elas vendem pertencimento.
E talvez essa tenha sido a primeira vez que eu fui impactado por branding.
A primeira vez que entendi, sem saber explicar, que o valor de um produto não está no que ele é, mas no que ele representa.
Gosto Invisível
A verdade é que eu não comprei um refrigerante.
Eu comprei uma promessa emocional embalada em vermelho.
A Coca estava vendendo um sentimento — e eu, com 7 anos, comprei sem hesitar.
A garrafa era só um portal.
O que eu realmente queria era estar naquela mesa, cercado de sorrisos, de calor humano, de algo que parecia maior que a vida real.
E naquele momento, sem entender nada sobre negócios ou marketing, eu fui impactado por algo que molda impérios:
o gosto invisível.
Esse é o ponto:
Marcas inesquecíveis não vivem no paladar. Elas vivem na memória.
Elas deixam um sabor que você não consegue explicar, mas também não consegue esquecer.
E o mais perigoso?
Você acha que está comprando o produto. Mas o que você quer mesmo é o sentimento.
O gosto invisível é essa força silenciosa que transforma empresas em símbolos.
É o que faz alguém pagar mais por um café que tem gosto comum, mas vem num copo com o nome dela escrito à mão.
É o que leva pessoas a tatuarem logos.
É o que faz você desejar algo que, no fundo, você nem precisa.
É por isso que o branding certo não vende.
Ele hipnotiza.
E no centro dessa hipnose está uma imagem que você precisa lembrar como empreendedor:
Uma mesa cheia, com uma garrafa no centro, e ninguém falando da bebida, só sorrindo.
Esse é o retrato do que a sua marca deveria entregar:
não um produto, mas uma presença.
Algo que, mesmo quando não está sendo consumido, ainda está sendo sentido.
É esse o tipo de marca que sobrevive quando os preços caem, os algoritmos mudam e os concorrentes copiam.
Porque ela conquistou algo que não se compra com tráfego pago:
memória emocional.
E a pergunta que fica pra você é direta:
O que o seu cliente sente quando pensa na sua marca?
Se você sumisse hoje… ele sentiria falta?
Ou ele só lembraria do gosto?
O gole que mudou o mundo
Em 1995, a Coca-Cola fez um teste chamado “Project Kansas”.
A empresa decidiu mudar sua fórmula para enfrentar o crescimento da Pepsi, que ganhava em testes cego de sabor.
Eles lançaram a “New Coke”, e o resultado foi desastroso.
Mesmo com um gosto mais adocicado e aprovado em testes, as pessoas rejeitaram a bebida com força.
Motivo?
Elas não estavam comprando o gosto. Estavam comprando o símbolo.
A marca.
A memória.
A história.
Esse episódio é hoje estudado nas maiores universidades de marketing do mundo, e nos ensina algo simples, mas brutal:
As pessoas não compram o melhor produto. Compram o que faz elas se sentirem melhor.
É como diz Marty Neumeier, um dos maiores especialistas em branding:
“Uma marca não é o que você diz que é.
É o que eles dizem que é.”
O que isso tem a ver com você?
Tudo.
Se sua empresa acha que vai vencer só com “qualidade superior”, “entrega rápida” e “preço competitivo”... ela tá brigando por espaço em uma prateleira invisível, onde ninguém sente nada.
Agora, olha isso:
Em um estudo feito pela Harvard, 95% das decisões de compra são tomadas de forma emocional e inconsciente.
Ou seja, a lógica é só o álibi da emoção.
E aqui entra a sua vantagem.
Porque marcas pequenas, que ainda não têm verba, podem vencer gigantes se entenderem o que os gigantes esqueceram:
O jogo não é de atenção.
É de conexão emocional.
Quer um exemplo inesperado?
A Supreme.
Marca de roupas urbanas.
Qualidade básica. Design simples.
Preço? Absurdo.
Mas vende em minutos.
Gente acampa na rua pra comprar.
Por quê?
Porque comprar a Supreme é um ritual de pertencimento.
Você não compra a camiseta.
Você compra o direito de dizer: “Eu faço parte.”
Essa é a função do gosto invisível.
Ele faz o seu cliente se sentir alguém melhor, mais seguro, mais visto, mais pertencente.
E lembra da minha história com a Coca-Cola?
Eu não queria a bebida.
Queria sentar naquela mesa com aquelas pessoas.
Queria fazer parte daquele mundo.
Quantos produtos você já comprou porque queria se sentir parte de alguma coisa?
E quantas marcas você já abandonou porque eram frias, sem alma, sem gosto?
Quando você entende isso, tudo muda.
A sua comunicação muda.
O seu design muda.
O seu posicionamento muda.
Porque agora você não está vendendo “consultoria”, “produto digital” ou “infoproduto”.
Você está vendendo a transformação simbólica.
Você está dizendo pro seu cliente:
“Comigo, você vai fazer parte de algo que nem todo mundo tem acesso.”
Esse é o verdadeiro valor.
Não está no “como”.
Está no “por quê”.
E o “por quê” só se sustenta com um gosto que a pessoa leva mesmo depois que o produto acaba.
Um gosto invisível.
Mas eterno.
Desafio da Semana
Você consegue enxergar o que está bebendo?
Você não quer uma Coca-Cola.
Você quer o verão.
Você quer a brisa.
Você quer a memória de algo que talvez nunca viveu, mas sente como se fosse seu.
Você quer fazer parte.
Quer ser visto.
Quer que alguém diga: “eu também”.
E é por isso que esta semana, o desafio é um pouco mais profundo.
É sobre o que você está consumindo sem perceber.
Então aqui vai:
Durante os próximos 7 dias, quero que você anote tudo o que você consome – não só com a boca, mas com os olhos, os ouvidos e com o ego.
Os perfis que você segue.
As séries que você assiste.
As conversas que você alimenta.
As compras que você faz “só porque sim”.
E principalmente: os pensamentos que você repete sem saber de onde vieram.
Faça isso como se estivesse espionando a si mesmo.
Porque é isso que as marcas, os algoritmos e os símbolos fazem com você o tempo inteiro:
Eles vendem mais que produtos. Vendem identidades.
Vendem versões suas que você nem sabe se quer ser.
Perguntas para te cutucar enquanto você observa:
O que você quer provar quando compra algo?
De quem é o desejo que você está realizando? Seu mesmo… ou emprestado?
Quando você posta algo, o que espera em troca?
Que imagem você gostaria que as pessoas projetassem em você?
Dica prática:
Crie uma lista dividida em 3 colunas:
O que consumi?
Por quê? (Ou o que senti antes?)
O que senti depois?
Você vai perceber padrões.
Alguns te fortalecem.
Outros… drenam quem você é.
O verdadeiro desafio?
No final da semana, escolha um desses padrões invisíveis, e quebre ele de propósito.
Não compre.
Não reaja.
Não poste.
Não alimente.
Apenas observe o desconforto.
E descubra quem é você sem o símbolo, sem o rótulo, sem o refrigerante gelado que promete tudo – mas entrega nada.
Porque talvez, só talvez…
o que você está buscando não está no que você consome.
Está no que você consegue encarar sem consumir.
E isso… muda tudo.
Forte Abraço,
Matheus Ferreira
Ora et Labora