Ouro nas Grades, Lama na Alma

Mente Manifesto - Edição #022

Ambição ou ganância?

Citação da Semana

O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. 

Apóstolo Paulo, em 1 Timóteo 6:10

Esse versículo, escrito há quase dois mil anos, continua mais atual do que nunca.

Hoje, ele aparece disfarçado nos vídeos de carros de luxo, nas legendas com emojis de foguinho, nas frases prontas sobre “grind” e “hustle”.
A ganância ganhou roupa de sucesso.
E passou a ser celebrada como se fosse ambição.

Mas tem uma diferença brutal entre as duas.

A ambição te impulsiona.
A ganância te devora.

Enquanto a ambição é movida por propósito, a ganância é movida por ego.
E, como todo ego faminto, ela cobra caro.
Muitas vezes com sua saúde, sua família, sua paz de espírito… e a sua liberdade.

A busca descontrolada por dinheiro pode se tornar uma prisão dourada.
Reluzente por fora.
Vazia por dentro.

E trocar ganância por ambição, pode ser a chave para viver uma vida mais próspera, consciente e verdadeira.

Entre os 20 e 24 anos, eu estava sempre com o celular na mão.
A tela iluminava meu rosto até altas horas da madrugada.
Um pitch novo.
Um grupo no WhatsApp explodindo com “oportunidade imperdível”.
Um negócio “inovador” que prometia lucro em tempo recorde.
Mais um PDF com promessas de liberdade.

Na maior parte do tempo, eu estava suando frio, não porque estava trabalhando duro, mas porque eu não fazia ideia no que tinha me metido.

Ouvia frases como:

“Você precisa pensar como milionário.”
“Dinheiro não dorme.”
“Quem hesita, perde.”

E lá estava eu, clicando em links, fazendo TEDs para desconhecidos, investindo em projetos que eu mal compreendia.
Tudo em nome de uma coisa: ficar rico o mais rápido possível.

Não havia estratégia.
Não havia propósito.
Só havia sede.

E o pior: eu achava que isso era ambição.
Achava que era assim que se vencia na vida.

Comecei a me afastar de tudo que me fazia bem.

Minha fé?
Silenciosamente deixada de lado.
Já não conversava com Deus.
Não por raiva.
Por esquecimento.

Minha família?
Virou um lembrete constante de que eu estava me perdendo e por isso, passei a evitá-los.

Relacionamentos?
Superficiais, passageiros, funcionais.
Eu não estava interessado em conexão, só em resultados.

Por fora, eu dizia que era questão de tempo até “estourar”.
Por dentro, eu me sentia cada vez mais afundado em lama.

Lembro de um dia específico.

Estava sozinho, deitado no sofá, olhando para o teto.
O som de notificações era constante, mas pela primeira vez, não me causava euforia.
Me causava náusea.

Senti um aperto no peito.
Não era um ataque de pânico, mas era algo espiritual.

Era como se algo estivesse me dizendo:

“Você está vendendo a sua alma por promessas vazias.”

Pela primeira vez em muito tempo, me senti mal.
Não por ter perdido dinheiro.
Mas porque percebi que estava perdendo a mim mesmo.

Foram quatro anos sequestrado pela ganância.
Quatro anos alimentando um buraco que só crescia.

Mas aquele dia foi um ponto de inflexão.
Não uma virada cinematográfica, não virei milionário no dia seguinte.

Foi só um pensamento:
“Eu preciso trocar a pressa por propósito.”

E isso mudou tudo.

Eu encontrei uma profissão que me completa.
Conheci a mulher da minha vida e comecei a construir uma família.
Me reconectei com minha fé e com minha essência.

Hoje, continuo buscando prosperidade.
Mas agora, com ambição limpa.
Com clareza de que o dinheiro é um meio, não um fim.

E o mais irônico?
Foi só quando parei de correr atrás do dinheiro, que ele começou a me acompanhar.

A Prisão Dourada

A prisão que brilha por fora, mas enferruja por dentro

Ganância tem cheiro.

É o cheiro da ansiedade quando o celular vibra, e você sente que "essa é a oportunidade que vai mudar tudo".
É o suor frio antes de fazer uma transferência que você nem tem certeza se faz sentido.
É o gosto metálico na boca depois de mais um dia correndo atrás de dinheiro, e se afastando de tudo que te mantém vivo.

A minha história não é sobre falência financeira.
É sobre falência espiritual.

E esse é o ponto que muita gente ainda não entendeu:
A ganância não destrói só sua conta bancária, ela destrói quem você é.

Ela te convence de que você está “construindo um império”, quando na verdade você está construindo uma cela.
Uma cela com paredes de concreto invisível… e detalhes dourados.

Ela tem o formato de uma Ferrari, mas roda dentro de um circuito fechado.
Ela parece liberdade, mas só te permite dar voltas no próprio vazio.

Essa é a prisão dourada.

Muitos vivem nela hoje.
Acordam cheios de promessas.
Dormem cheios de dúvidas.

Têm dinheiro entrando, mas não têm paz.
Têm reconhecimento nas redes, mas não têm conexão real com ninguém.

E a pergunta que ninguém quer se fazer é:

“Será que eu estou vivendo para ganhar dinheiro ou estou ganhando dinheiro para viver?”

Quando eu olho para trás, para aqueles quatro anos de ilusão, o que me choca não é o que perdi financeiramente, é o que eu deixei de ser.

Deixei de ser presente com a família.
Deixei de ser autêntico comigo mesmo.
Deixei de ouvir a voz de Deus, porque o barulho da ambição era ensurdecedor.

Mas o mais louco é que eu achava que estava livre.
Achava que liberdade era poder fazer o que quiser, ganhar quanto quiser, a hora que quiser.

Só que liberdade de verdade não é sobre fazer tudo.
É sobre não ser escravo de nada.

A prisão dourada continua lá fora, com as grades bem polidas.

Ela aparece em cada anúncio que promete "6 em 7".
Em cada vídeo que diz "você está ficando para trás".
Em cada voz que te empurra a correr mais rápido, sem se perguntar pra onde está indo.

Mas hoje, depois da virada, eu entendi:
a chave da cela está do lado de dentro.

A chave é simples:

Trocar a ganância por ambição.
Trocar o desejo de ter mais que os outros pelo desejo de ser mais para os outros.
Trocar o foco no dinheiro pelo foco no propósito.

A prisão dourada vai continuar existindo.
Ela é bonita demais para ser extinta.
Mas a partir do momento que você reconhece que está nela, já não é mais um prisioneiro…

…É um viajante pronto para fugir.

E quando você sai…
O mundo deixa de parecer uma corrida, e passa a ser uma jornada.

O Preço da Riqueza Sem Propósito

Jordan Belfort não era um amador.

Ele tinha carisma, habilidades de vendas acima da média e um time de elite por trás.
A corretora Stratton Oakmont, que fundou nos anos 90, cresceu como um foguete.
Em pouco tempo, movimentava mais de US$ 1 bilhão.

Ele vivia o sonho americano turbinado:
arros de luxo, festas épicas, drogas caras, iates, mulheres, status, e tudo isso antes dos 30.

Mas a estrutura por trás do sonho era uma bomba-relógio.
Belfort vendia ações de empresas pequenas, inflava seus valores e enganava investidores.
A ganância não estava no produto, estava no modelo de negócio.

Quanto mais dinheiro entrava, mais ele precisava de dinheiro para sustentar a própria imagem.
Era como encher um balde furado com champanhe.

Em 1999, ele foi condenado por fraude e lavagem de dinheiro.
Cumpriu 22 meses de prisão.
E mesmo com todo o dinheiro que fez, o que restou foi uma reputação destruída e a obrigação de devolver mais de US$ 100 milhões aos investidores lesados.

A história de Belfort virou filme.
Mas a parte que quase ninguém comenta é que o que aconteceu com ele acontece, em escalas menores, com milhares de pessoas todos os dias.

Segundo um estudo da National Endowment for Financial Education, nos Estados Unidos:

70% das pessoas que recebem grandes quantias de dinheiro (como heranças ou prêmios de loteria) perdem tudo em até 5 anos.

Não é coincidência.
Quando a riqueza chega sem propósito, ela escorre pelos dedos.

E não é só nos EUA.

No Brasil, o número de pessoas que declaram falência pessoal após ganhos inesperados tem aumentado com o crescimento das apostas esportivas e negócios digitais de alta promessa.

Muita gente entra no mercado digital acreditando que “dinheiro fácil” é sinônimo de sucesso.
Mas sucesso fácil, geralmente, é apenas ganância digitalizada.

E aqui está a conexão com a minha própria história.

Não, eu não movimentei bilhões nem fui preso.
Mas entendo perfeitamente o que é se perder num mundo onde o valor da vida é medido por números na tela.

Entendo o que é acordar com a euforia do lucro e dormir com a ansiedade de perder tudo.
Entendo o que é apostar em coisas que você mal entende, só porque todo mundo parece estar ganhando.

O mundo vende a ideia de que sucesso é sinônimo de aceleração.
Mas a verdade é que a velocidade sem direção só te leva ao abismo mais rápido

A palavra "ganância" vem do latim gannire, que significa "rosnar como um cão faminto".

É a fome que nunca passa.
A obsessão que nunca se satisfaz.

E é exatamente isso que vi em mim, em Belfort, e em tantos outros.
Não falta dinheiro. Falta propósito.

Desafio da Semana

A chave está com você.
Use.

Feche os olhos por um instante.

Imagine que você está diante de uma cela dourada.
As paredes brilham.
O chão é de mármore.
As barras são de ouro polido.

Lá dentro tem conforto, status, promessas.
Mas também tem silêncio.
Solidão.
E uma angústia que vai crescendo devagar.

Agora imagine que essa cela é a sua vida hoje.

Pense nos seus dias, nas suas decisões, no que te movimenta.
Pense no que você tem sacrificado em nome de um dinheiro que, talvez, nem saiba exatamente pra quê serve.

Essa cela parece familiar?

O seu desafio esta semana é fazer três perguntas.

Só três.
Mas que podem te dar um estalo.
E talvez, se respondidas com coragem, possam abrir a porta da cela por dentro.

Anote aí, ou melhor, leia como se eu estivesse te dizendo no pé do ouvido:

  1. O que tem movido meus esforços: ambição ou ganância?

    A ambição tem direção, propósito, raiz.
    A ganância é fumaça que sobe e sufoca.
    Reflita sobre suas metas, suas urgências, seus investimentos.
    Você está construindo algo... ou apenas cavando mais fundo?
    Se você sumisse hoje do mundo, o que ficou foi algo que você construiu com amor, ou apenas rastros de pressa?

  2. Que partes da minha vida estão sendo ignoradas ou destruídas na busca por dinheiro?
    Essa parte dói. Mas precisa doer.
    Quem você deixou de ouvir?
    O que você deixou de viver?
    Quando foi a última vez que sentiu paz, aquela paz de quem deita a cabeça no travesseiro com o coração leve?
    Dinheiro compra muitas coisas.
    Mas não compra sono profundo.
    Não compra abraço sincero.
    Não compra presença.

  3. Se o dinheiro que desejo cair na minha conta amanhã... o que eu faria de verdade com ele?
    Aqui está o ponto cego da maioria:
    Desejam muito, mas não sabem por quê.
    Responder essa pergunta exige parar.
    E parar exige coragem, porque talvez a resposta doa.
    Talvez você perceba que está perseguindo cifras, mas perdeu de vista o significado.

Esse é o desafio.

Não é sobre parar de buscar o dinheiro. É sobre colocar ele no lugar certo.

Usar o dinheiro como meio, não como mestre.
Usar a ambição como combustível, não como muleta para o ego.

Você não precisa jogar tudo fora.
Você não precisa sumir nas montanhas.
Você só precisa ajustar o volante.

Dar dois passos para fora da cela.
Inspirar profundamente.
E lembrar que você não está aqui só para juntar, está aqui para viver.

Então me diz, sinceramente:

Você está construindo sua liberdade…
…ou apenas decorando a sua prisão?

Essa semana, escreva essas três perguntas em um papel.
Deixe ele no seu quarto.
Ou no carro.
Ou como fundo de tela do celular.

E toda vez que o dinheiro começar a gritar mais alto que a sua alma…
…leia de novo.

Porque a chave está com você. E sempre esteve.

Forte Abraço,
Matheus Ferreira

Ora et labora