Por que 30 abas abertas te deixam burro

Mente Manifesto - Edição #031

Trabalhando em uma festa

Citação da Semana

O homem sábio não é aquele que tem mais informações, mas aquele que sabe o que ignorar.

Nassim Taleb

Taleb escreveu isso pensando em mercados financeiros, mas acertou na mosca sobre sua vida.

Você acha que está "se informando" checando 47 notificações por hora.
Na verdade, está se sabotando.

Seu cérebro não foi feito para processar o tsunami de informações que você joga nele todo dia.
Podcasts no 2x, stories infinitos, cursos "rápidos"...

Excesso mata.

E não estou falando só de informação.
Estou falando de decisões, compromissos, opções, distrações.
Tudo que você não corta fora está cortando sua capacidade de focar no que realmente move a agulha.

A conversa aconteceu na quarto, pela manhã.
Eu ainda sentia o gosto amargo do café requentado no micro-ondas.

Minha esposa estava do meu lado na cama, me olhando com aquela expressão que eu já conhecia.
A que vinha antes das conversas difíceis.

"Você precisa largar o segundo emprego."

Meus ombros estavam tensos, sempre estavam naquela época.
Dormia 5 horas por noite, acordava com o celular vibrando, dormia com ele vibrando. Entre um emprego e outro, não tinha nem tempo de almoçar direito.

"Tá maluca? A gente mal consegue pagar as contas."

Ela suspirou. Eu conhecia esse suspiro. Era o mesmo de quando tentava me explicar algo óbvio que eu teimava em não ver.

"Matheus, você está se destruindo. E pior: está desperdiçando sua chance real."

Minha chance real.
O emprego novo, que eu havia conseguido depois de tanto tempo procurando.
Era lá que eu podia crescer, aprender, virar outra pessoa. Mas ainda não pagava o suficiente para sustentar nossa casa.

Então mantive o antigo também, aquele emprego chato, que drenava minha energia, mas que completava a renda.

Parecia lógico.
Parecia seguro.

Na verdade, era uma armadilha.

Chegava no emprego novo morto de cansaço.
Nas reuniões importantes, minha mente estava em outro lugar, calculando se daria tempo de almoçar antes de correr para o segundo expediente.

Quando meu chefe chamava para conversar sobre novos projetos, eu pensava na pilha de tarefas que me esperava do outro lado da cidade.

"Não posso arriscar", eu disse, esfregando os olhos. "E se der errado?"

"E se der certo?"

Essa pergunta ficou ecoando.
Não na hora, na hora eu estava ocupado demais listando todos os motivos pelos quais era loucura.
Conta de luz, financiamento da moto, supermercado, emergências...
Minha cabeça era uma planilha ambulante de catástrofes financeiras.

Mas ela tinha plantado a semente.

Nas semanas seguintes, comecei a perceber o que estava acontecendo comigo.
Era como tentar correr uma maratona carregando duas mochilas pesadas.
Claro que eu não ia longe.
Claro que estava ficando para trás.

O dia que pedi demissão do segundo emprego, minhas mãos tremeram assinando o papel.
O cheiro do escritório, aquele mix de café velho e produtos de limpeza, nunca me pareceu tão familiar.
Era como deixar uma prisão confortável.

Saí de lá com uma sensação estranha no peito.
Medo misturado com algo que eu não sentia há muito tempo: esperança.

Nos primeiros dias, o silêncio das noites livres me incomodava.
Eu ficava checando o celular, como se tivesse esquecido algo importante.
Meu corpo ainda estava programado para a correria.

Mas então algo mudou.

Comecei a chegar no emprego principal descansado.
Pela primeira vez em meses, conseguia prestar atenção nas conversas.
Minhas ideias ficaram mais claras, minha energia voltou.
Era como se alguém tivesse limpado meus óculos e eu via oportunidades que antes nem percebia.

Em 2 meses, meu chefe me chamou para uma conversa.
Primeira promoção.

Em 4 meses, outra.

Em 8 meses, a terceira.

Cada aumento não era só dinheiro, era liberdade.
Era a prova de que minha esposa estava certa.
Eu não precisava de mais trabalho.
Eu precisava de mais foco.

O que parecia perda virou ganho.
O que parecia risco virou segurança.

Excesso mata.

E eu quase morri sufocado pela ilusão de que "mais" sempre significa "melhor".

Excesso Mata

Minha história não é única.
É sua história também.

Talvez não seja um segundo emprego.
Talvez seja o curso online que você comprou e nunca terminou.
Ou as 15 newsletters que chegam todo dia e você se força a ler "para se manter atualizado".
Ou aquele projeto paralelo que você insiste em tocar, mesmo sabendo que está sugando energia do que realmente importa.

Ou talvez seja literal: as 47 abas abertas no seu navegador agora mesmo.

Excesso mata. 
Não de uma vez, como um tiro.
Mata devagar, como monóxido de carbono.
Você nem percebe que está sufocando.

Pense na imagem de um jardim.
Você planta 10 mudas em um vaso pequeno.
Que acontece?
Nenhuma cresce direito. T

odas competem pelos mesmos nutrientes, pela mesma água, pelo mesmo espaço.
No final, você tem 10 plantas fracas em vez de 1 planta forte.

Sua vida é esse vaso.

Cada "sim" que você dá é uma nova muda plantada.
Cada compromisso, cada projeto, cada meta, cada distração.
E você fica lá, regando tudo com a mesma energia limitada, se perguntando por que nada floresce de verdade.

O empresário mediano tem 50 projetos.
O bilionário tem 3.

O profissional mediano lê 10 livros por ano e não aplica nenhum.
O expert lê 2 livros e vira especialista.

O estudante mediano se inscreve em 5 cursos.
O que sai na frente termina 1.

Não é coincidência.

Excesso mata a profundidade.
Excesso mata a maestria.
Excesso mata resultados reais.

Quando eu larguei aquele segundo emprego, não foi só sobre dinheiro.
Foi sobre energia mental.
Foi sobre ter espaço para respirar, para pensar, para ver oportunidades que estavam na minha cara, mas que eu não conseguia enxergar porque estava correndo atrás de duas lebres ao mesmo tempo.

O resultado? Peguei uma.

E ela era maior do que as duas juntas.

Mas aqui está o que ninguém te conta: cortar dói.
Dói fisicamente.

Seu cérebro está viciado em ocupação.
Está viciado na sensação de "estar fazendo alguma coisa".
Mesmo que essa "alguma coisa" não esteja te levando a lugar nenhum.

Você prefere a ilusão de progresso à realidade da transformação.

Prefere 10 plantas morrinhas a 1 árvore robusta.
Prefere 50 conhecidos a 5 amigos verdadeiros.
Prefere 100 tarefas na lista a 3 resultados que mudam sua vida.

A imagem do jardim precisa ficar na sua cabeça.
Toda vez que você for dizer "sim" para mais alguma coisa, visualize: você está plantando mais uma muda no vaso que já está lotado.

Qual planta você vai sacrificar para dar espaço para essa nova?

Porque algo vai morrer. A matemática é implacável.
Ou você mata as plantas desnecessárias, ou elas matam as importantes.

Excesso mata. A pergunta é: o que você vai deixar ele matar?

Sua energia? Seus sonhos? Suas oportunidades reais?

Ou você vai matar ele primeiro?

O jardim está nas suas mãos. Hora de arrancar as ervas daninhas.

A Ciência do Menos É Mais

Steve Jobs tinha mais dinheiro do que 99,9% das pessoas no planeta.
Poderia comprar qualquer roupa, qualquer marca, qualquer estilo.
Escolheu usar a mesma coisa todo dia: jeans Levi's 501 e blusa preta.

Por quê?

"Quero eliminar uma decisão inútil da minha vida", ele disse.
Mesmo sendo bilionário, Jobs entendeu algo que a maioria nunca vai entender: cada decisão pequena rouba energia mental das decisões grandes.

Enquanto você gasta 15 minutos toda manhã decidindo que roupa usar, ele estava focando em como revolucionar a tecnologia.

Parece bobeira? Não é.

A abundância de informações gera pobreza de atenção.

Herbert Simon, ganhador do Prêmio Nobe

Nosso cérebro tem um limite físico: consegue processar apenas 7±2 itens na memória de trabalho.
Acima disso, começamos a perder clareza e eficiência.

É literalmente como meu computador travando com 30 abas abertas.

Barry Schwartz documentou isso no famoso "Paradoxo da Escolha".
Em um experimento clássico, pesquisadores montaram duas barracas de geleia em um supermercado.
Uma tinha 24 sabores, outra tinha 6.
Qual vendeu mais?

A de 6 sabores vendeu 10 vezes mais.

Por quê? Porque excesso de opções não é liberdade. É paralisia.

E agora conecte isso com minha história dos dois empregos.
Eu não estava só dividindo meu tempo.
Estava dividindo minha capacidade de decidir.

Cada manhã acordava com dezenas de micro-decisões:
"Que tarefa fazer primeiro no trabalho A? Como organizar o tempo para chegar no trabalho B? Que desculpa dar se me atrasasse?"

Minha mente era aquela barraca com 24 sabores de geleia.
Muita opção, pouca venda.

Marie Kondo não virou fenômeno mundial por acaso. Ela tocou em algo profundo: quando eliminamos o excesso, não estamos apenas arrumando gavetas.
Estamos abrindo espaço para uma nova vida. Literalmente.

Cada objeto que você guarda "por garantia" é um pedaço da sua energia mental sendo desperdiçado.
Cada aplicativo que você mantém "porque pode ser útil" é um fragmento da sua atenção sendo sequestrado.

Mas a história mais brutal vem de Viktor Frankl.

Nos campos de concentração nazistas, ele viu pessoas que tinham tudo sendo destruídas, e pessoas que não tinham nada sobrevivendo.
A diferença?

Os que sobreviveram eliminaram o excesso de ilusões e se agarraram a uma única coisa: propósito.

"Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como", ele escreveu.

Frankl entendeu que, mesmo na situação mais extrema, a sobrevivência dependia de cortar o desnecessário.
Não havia espaço mental para mil preocupações.
Havia espaço para uma: encontrar sentido no sofrimento.

Se ele conseguiu isso no inferno, por que você não consegue fazer isso na sua vida confortável?

Pesquisadores de Stanford descobriram que pessoas que fazem multitarefas cronicamente têm pior desempenho e memória mais fraca do que quem foca em uma coisa por vez.
Elas não são mais produtivas.
São menos eficientes em tudo.

É como ter 10 torneiras meio abertas em vez de 1 torneira totalmente aberta.
Você acha que está fazendo mais, mas está desperdiçando pressão.

Não possuímos as coisas; são elas que nos possuem.

Sêneca

Ele estava falando de objetos, mas vale para tudo.
Você não possui aquelas 47 abas abertas no navegador.
Elas possuem você.

Você não possui aquela lista infinita de tarefas.
Ela possui você.

Você não possui todos esses compromissos.
Eles possuem você.

A perfeição é alcançada, não quando não há mais nada a acrescentar, mas quando não há mais nada a retirar

Antoine de Saint-Exupéry

Jobs sabia disso. Frankl descobriu isso. Kondo ensina isso.

E você? Ainda está tentando adicionar mais coisas à sua vida, ou finalmente vai começar a subtrair?

Excesso mata. 

A ciência comprova.
A história ensina.
Os gênios praticam.

Falta só você decidir: vai ser mais uma estatística do Paradoxo da Escolha, ou vai ser alguém que entendeu que menos é mais?

Desafio da Semana

Você chegou até aqui porque alguma coisa na sua vida está sufocando.

Eu sei. Você sabe.
Vamos parar de fingir.

Então aqui vai meu desafio para esta semana.
Mas antes, uma pergunta que vai doer:

Se você morresse amanhã, qual seria a ÚNICA coisa que você gostaria de ter dado mais atenção?

Não me dê três respostas.
Não me dê "familia, trabalho e saúde".
Me dê UMA.
A que realmente importa.
A que você tem negligenciado enquanto se afoga em mil outras "prioridades".

Anotou? Ótimo.

Agora vem a parte difícil.

Durante os próximos 7 dias, você vai fazer o "Detox do Excesso":

Dia 1-2: Auditoria Brutal Faça uma lista de TUDO que consome sua energia mental:

  • Aplicativos no celular

  • Compromissos semanais

  • Projetos em andamento

  • Newsletters que você recebe

  • Pessoas que sugam sua energia

  • Hábitos que não te levam a lugar nenhum

  • Objetos na sua mesa de trabalho

Seja cruel.
Seja honesto.
Se você não usou nos últimos 30 dias, vai para a lista.

Dia 3-4: O Corte Cirúrgico Pegue sua lista e corte 50%. Não 20%. Não 30%. CINQUENTA por cento.

Delete os apps.
Cancele as assinaturas.
Diga "não" para os compromissos.
Doe ou jogue fora o que não serve.

Coloque limites nas pessoas tóxicas.

Vai doer.
Seu cérebro vai gritar.
Vai parecer que você está perdendo oportunidades. Lembra do medo que senti quando saí do segundo emprego?
É exatamente isso que você vai sentir.

Sente o medo. E faça mesmo assim.

Dia 5-7: Foco Laser Com todo esse espaço mental liberado, dedique 2 horas por dia para aquela ÚNICA coisa que você anotou no começo. Não 30 minutos. Duas horas. Inteiras. Sem celular, sem notificação, sem desculpa.

Mas aqui está o twist:

No final da semana, quero que você responda estas perguntas:

  1. O que você "perdeu" cortando 50% das suas atividades?

  2. O que você ganhou focando naquela única coisa?

  3. Como você se sente mentalmente agora?

Spoiler: você vai descobrir que não perdeu nada importante.
E vai descobrir que ganhou algo que não tinha preço: clareza.

Eu fiz isso quando larguei o segundo emprego.
Jobs fez isso com o armário.
Frankl fez isso nos campos.

Agora é sua vez.

Excesso mata. Mas só se você deixar.

Esta semana, você vai ser o jardineiro da sua própria vida.
Vai arrancar as ervas daninhas que estão sufocando sua árvore principal.

Vai doer. Vai ser desconfortável. Vai parecer errado.

E vai ser a melhor coisa que você fez nos últimos meses.

Aceita o desafio?

Ou vai continuar fingindo que consegue fazer tudo ao mesmo tempo, enquanto na verdade não faz nada direito?

A escolha é sua.
Sempre foi.

Mas agora você sabe o preço de escolher errado.

Forte Abraço,
Matheus Ferreira

Ora et labora.