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Como ligar sua máquina toda manhã
Mente Manifesto - Edição #024

Escrever é treino, não dom
Citação da Semana
A resistência vai mentir para você. Vai dizer que você é fraco, burro, sem talento. Mas a verdade? A verdade é que ela está com medo de você.
Toda vez que você senta para escrever, uma batalha silenciosa começa.
E ela não é contra o teclado, a tela em branco ou o tempo curto.
Ela é contra a resistência.
Essa força invisível que sussurra coisas como:
“Você não tem nada de novo pra dizer.”
“Ninguém vai querer ler isso.”
“Você escreve mal. Sempre escreveu.”
O problema é que muita gente acredita nessas vozes.
Mas o que Pressfield nos revela, e que eu experimentei na prática, é que essa resistência só aparece quando você está prestes a fazer algo significativo.
Ela surge não porque você é fraco, mas porque está ficando forte.
Ela mente porque está com medo do que você pode se tornar se continuar escrevendo.
E é aí que entra o segredo que eu descobri:
Você pode silenciar essa resistência.
Basta construir sua própria máquina de flow.
"A vez em que quase desisti de escrever"
Eu lembro exatamente do barulho das teclas naquela manhã: seco, mecânico, frustrado.
Estava sentado na mesma cadeira de sempre, na varanda da casa que dividia com minha mãe e irmã.
Era cedo, acho que umas 7h15, o sol ainda não tinha estourado com força, mas a luz já incomodava os olhos.
Eu tinha prometido pra mim mesmo que ia escrever alguma coisa antes do café.
Um parágrafo. Uma linha. Qualquer coisa.
Mas nada vinha.
Eu ficava encarando a tela com aquela sensação nojenta de que estava enganando a mim mesmo.
A frase surgia na mente,“você é uma fraude”, e se repetia com um eco cada vez mais alto.
A cada nova tentativa de escrever, vinha um corte:
“Isso é óbvio demais.”
“Ninguém vai se importar.”
“Você está forçando algo que não tem.”
Naquela manhã, pensei seriamente em desistir da ideia de ser escritor.
Eu já tinha lido todos os livros.
Estava mergulhado em técnicas, fórmulas, estruturas.
Mas toda vez que me sentava para escrever, parecia que tinha um ruído, uma espécie de estática mental, me puxando pra longe do texto.
Era como tentar ouvir uma música linda num rádio fora de sintonia.
Até que aconteceu uma coisa.
Naquela mesma semana, um amigo muito próximo leu um dos meus textos e me perguntou:
“Você escreve com fúria ou com medo?”
Eu não soube responder.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando entender o que aquilo queria dizer.
Ele continuou:
“Parece que você escreve se desculpando. Como se cada frase viesse acompanhada de um ‘me desculpa por incomodar’.”
Aquilo me acertou em cheio.
Nos dias seguintes, comecei a observar meu comportamento com mais atenção.
Antes de escrever, eu revisava mentalmente todas as formas de falhar.
Organizava o ambiente, mas desorganizava a mente.
Procurava a palavra perfeita antes mesmo de terminar o parágrafo.
E o mais curioso: eu nunca me entregava de verdade. Sempre deixava uma parte de mim do lado de fora do texto.
Foi aí que entendi: o problema não era a técnica, era o estado mental em que eu escrevia.
Eu estava sempre sob ataque, tentando me proteger, ao invés de mergulhar.
Aos poucos, comecei a fazer pequenos ajustes.
Fechar a porta.
Colocar uma música ambiente.
Tomar água antes de começar.
Escrever por 60 minutos sem interrupção, sem redes sociais, sem julgamentos.
No início parecia besteira.
Mas, em duas semanas, algo começou a mudar.
O texto fluía.
O medo diminuía.
O tempo passava mais rápido.
Descobri que eu não precisava de mais conteúdo sobre escrita.
Eu precisava de um sistema para entrar no estado certo.
Minha própria máquina de flow.
E desde então, cada vez que eu ligo essa máquina, ela me devolve liberdade, clareza e um silêncio interno que só quem já sentiu entende.
A Máquina de Flow
Naquela manhã em que quase desisti de escrever, eu achava que estava lidando com um problema técnico.
Talvez meu vocabulário estivesse limitado.
Talvez eu não tivesse lido os autores certos.
Talvez fosse falta de talento mesmo.
Mas hoje, olhando para trás, entendo que o problema era outro:
Eu estava tentando ligar um motor sem combustível.
Escrever, descobri, não começa na página. Começa no cérebro.
Existe um estado mental validado pela psicologia, estudado por criativos e atletas de alta performance chamado flow.
É aquele momento raro em que você se esquece da hora, do celular, do julgamento, e mergulha completamente no que está fazendo.
O tempo para.
O mundo cala.
E só sobra você e aquilo que está criando.
O flow não é sorte.
Não é mágica.
Não é talento.
O flow é uma máquina.
E como toda máquina, ela precisa de peças certas para funcionar.
Foi assim que nasceu o conceito que me salvou: A Máquina de Flow.
Uma sequência de engrenagens invisíveis que, quando se encaixam, transformam até um escritor travado num canal de clareza, criatividade e força.
E a primeira engrenagem é o ambiente.
Se o seu espaço está caótico, sua mente também estará.
Minha rotina mudou quando comecei a respeitar o ritual: arrumar a mesa, fechar a porta, encher a garrafa de água, escolher uma música ambiente sem letra, e, só então, começar a escrever.
A segunda engrenagem é a mente.
Eu descobri que cada decisão boba que eu tomava antes de escrever, que roupa vestir, que mensagem responder, que feed olhar, era como derramar gasolina no meu foco e riscar um fósforo.
A mente precisa de silêncio, previsibilidade e preparo.
Por isso, escrevo de manhã, antes de ser puxado pela avalanche do dia.
Antes que o mundo comece a gritar.
A terceira engrenagem é a emoção.
Essa talvez seja a mais sabotada de todas.
Aquele sentimento de que você não é bom o suficiente, de que ninguém vai ler, de que já existe coisa melhor…
Essas vozes são como areia jogada no motor.
Travam tudo.
A máquina de flow só funciona quando você cala o crítico interno e convida o criador.
E foi entendendo essas três engrenagens — ambiente, mente e emoção — que tudo começou a mudar.
Hoje, quando me sento para escrever, não espero a inspiração.
Eu aciono a máquina.
Fecho a porta.
Coloco a música certa.
Ligo o timer.
E mergulho.
E quando tudo se encaixa… o som das teclas muda.
Aquele barulho seco e frustrado da manhã em que quase desisti…
Ele dá lugar a um ritmo contínuo, hipnótico, quase como uma melodia.
Téc. Téc. Téc. Téc.
Esse som, pra mim, virou um símbolo.
É o barulho da máquina ligada.
É a batida do foco.
É a trilha sonora de alguém que parou de lutar contra a escrita, e passou a colaborar com ela.
E agora, a pergunta que fica é:
Qual parte da sua máquina está travada?
Qual engrenagem está fora do lugar?
E o que você pode fazer hoje para ligar esse motor?
A resposta, eu te garanto, não está no talento.
Está no ritual.
Como ligar sua Máquina de Flow
Durante muito tempo, eu achava que escrever exigia inspiração.
Hoje, sei que escrever exige engenharia mental e comportamental, e que a inspiração é, na verdade, um efeito colateral de quem liga essa máquina do jeito certo.
Existem três leis clássicas que moldaram minha rotina de escrita e que, curiosamente, vêm de áreas completamente diferentes: física, produtividade e economia.
Parece coisa de laboratório, mas você vai ver que tudo isso tem mais a ver com sua rotina de escrita do que você imagina.
1. Lei de Newton – A Escrita em Movimento Tende a Continuar em Movimento
“Um corpo em repouso tende a permanecer em repouso. Um corpo em movimento tende a continuar em movimento.”
Isaac Newton formulou essa lei para explicar o comportamento físico dos objetos, mas ela também explica por que começar a escrever é tão difícil… e por que é tão libertador quando você começa.
Quando você olha para a tela em branco, você está em “repouso criativo”.
A inércia da mente é real.
Mas o segredo é ignorar a perfeição e apenas começar.
Mesmo que você escreva bobagens no início.
Mesmo que você odeie cada linha.
Porque, como dizia Hemingway:
“O primeiro rascunho de qualquer coisa é sempre uma mrda.”*
A mágica está no movimento, e movimento gera movimento.
2. Lei de Parkinson – O Texto Se Expande para Ocupar o Tempo que Você Der a Ele
Essa lei foi criada por Cyril Parkinson em 1955, observando o comportamento da burocracia britânica: quanto mais tempo você dá para uma tarefa, mais complexa (e lenta) ela se torna.
Em outras palavras:
Se você tiver o dia inteiro para escrever um texto, vai levar o dia inteiro. Mesmo que ele só precise de 1 hora.
Essa foi uma das maiores viradas da minha carreira como escritor e copywriter.
Quando eu defini limites de tempo reais para escrever, com timer, começo e fim bem claros, o texto começou a sair com mais foco, mais clareza e menos autojulgamento.
Por isso, uso a técnica do tempo invertido:
Não começo dizendo “vou escrever um texto sobre X”.
Eu digo: “vou escrever por 1 hora e ver o que sai sobre X”.
Isso tira a pressão do resultado e coloca a atenção no processo.
3. Lei de Pareto – 80% do Resultado Vem de 20% do Esforço Certo
Vilfredo Pareto, economista italiano, observou no século XIX que 80% das terras na Itália pertenciam a 20% da população.
Mais tarde, esse padrão foi encontrado em praticamente todas as áreas: negócios, produtividade, criatividade, impacto.
Na escrita, isso se traduz assim:
Nem todos os textos que você escreve vão gerar resultado. Mas os poucos que geram, mudam tudo.
De todos os textos publicados, 2 foram os responsáveis por atrair os melhores clientes e oportunidades reais.
Mas se eu não tivesse escrito os outros, eles nunca teriam aparecido.
O segredo é a constância com inteligência: escrever com frequência, mas prestando atenção na resposta da audiência.
Quais textos geram mais compartilhamentos? Quais viram conversa no direct? Quais mudam o tom de quem te lê?
Pareto me ensinou a escrever mais, mas revisar melhor.
A continuar produzindo, mas sabendo onde mirar.
O Som do Flow
Você sabia que escrever com som ambiente (como barulho de chuva, café, música clássica ou sons da natureza) pode melhorar drasticamente seu foco?
Segundo um estudo da Journal of Consumer Research, níveis moderados de ruído (70 decibéis) aumentam a capacidade de processamento abstrato do cérebro, exatamente o tipo de foco criativo que a escrita exige.
Desde que descobri isso, minha playlist matinal virou quase um ritual sagrado:
Nada de pop, letras ou batidas frenéticas.
Só piano, violoncelo, e às vezes, o som suave de uma tempestade distante.
É o som da máquina sendo ligada.
A Ciência da Escrita Não É Sobre Fórmulas, Mas Sobre Engrenagens
Essas leis não são hacks.
São engrenagens silenciosas que, quando bem ajustadas, colocam sua mente no trilho certo para escrever com profundidade, clareza e impacto.
Escrever bem não é escrever perfeito.
É escrever com frequência, foco e escuta.
A boa notícia?
Tudo isso pode ser aprendido, treinado e replicado, como ligar um motor toda manhã e ouvir ele roncar suave:
Téc. Téc. Téc. Téc.
Desafio da Semana
Vamos ser sinceros?
Você já prometeu que ia escrever mais vezes do que realmente escreveu.
Já disse que precisava só de um pouco mais de tempo…
Só de um pouco mais de inspiração...
Só de uma ideia melhor...
E essa ideia nunca veio, né?
Você não está sozinho.
Eu também me escondi atrás dessas desculpas por muito tempo.
Mas chega um momento — e talvez esse seja o seu — em que você percebe que não é o mundo que está te sabotando.
É você mesmo.
Com distrações disfarçadas de compromissos.
Com medos maquiados de “falta de tempo”.
E o pior: você começa a acreditar que talvez escrever não seja pra você.
Que talvez escrever “não seja o seu dom”.
Mentira.
Você só não aprendeu a ligar a sua máquina.
Então aqui vai o desafio.
Essa semana, você vai ligar a sua Máquina de Flow.
E vai escrever.
Não importa se você tem apenas 30 minutos ou 2 horas.
Não importa se você acha que não tem nada a dizer.
Não importa se você está há meses travado.
Você vai escrever.
Mesmo com medo.
Mesmo com raiva.
Mesmo com dúvida.
Mas antes disso, você vai seguir o ritual.
Porque máquinas não ligam sozinhas.
Elas precisam de sequência. De respeito. De intenção.
Seu desafio:
1. Prepare o ambiente.
Escolha um lugar. Limpe. Organize. Deixe apenas o essencial.
Coloque uma música ambiente (sem letra). Feche a porta. Pegue uma garrafa de água.
Aja como se estivesse entrando num templo. Porque está.
2. Programe a mente.
Escolha um horário fixo. De preferência, pela manhã.
Avise alguém que você ficará indisponível. Feche redes sociais.
Vista-se como se fosse sair — mas em vez de sair, mergulhe.
3. Desarme as emoções.
Escreva como se ninguém fosse ler.
Tire o crítico da sala. Convide o criador.
Diga a si mesmo: “Não vai ser perfeito. Vai ser necessário.”
4. Ligue o timer: 60 minutos.
Sem pausa. Sem revisão. Sem retorno.
Só escreva.
O tema? Você escolhe.
Pode ser sobre algo que viveu. Algo que pensa. Algo que precisa dizer.
Mas escreva até o tempo acabar. Só pare quando o alarme tocar.
5. Ao final, respire. E leia em voz alta.
Você vai se surpreender com o que conseguiu produzir.
Talvez ainda ache ruim. Mas vai sentir algo raro: orgulho de ter feito.
E se você quiser ir além — mande esse texto para mim.
Sério.
Manda no meu direct, no e-mail, onde quiser.
Não pra eu julgar.
Mas pra você provar que foi até o fim.
Pra você mostrar que, pelo menos uma vez na semana, venceu a resistência.
Porque é isso que escritores fazem.
Eles não escrevem porque estão prontos.
Eles escrevem para ficarem prontos.
Então aqui está, o momento que vai te definir:
Você vai continuar apenas desejando ser alguém que escreve...
...ou vai ligar a máquina e finalmente escrever?
O timer está esperando.
Você sabe o que fazer.
Forte Abraço,
Matheus Ferreira
Ora et labora